
Recordo como se fosse ontem. A imagem de um sorriso franco e sereno, e uma personalidade que foi ganhando terreno. Revelaste-te como alguém presente, interessada e gradualmente dedicada. Reparei que não o eras apenas comigo, era a tua maneira de ser. Se podias fazer algo – pequeno ou imenso - para animar o dia dos que te rodeavam, fazias. Sem contas, estratégias ou interesses. Natural. Como podia eu não reparar?
Fui afortunado em desenvolvermos uma amizade.
Mas, foi nesse patamar que comecei a sentir-me gradualmente atordoado, confuso e com um peso enorme na minha alma. Estava a trair-te. A trair a tua sincera dedicação; a trair-me, estupidamente, também a mim. O que para mim era amizade pura e empenhada, para ti começou a ser mais do que isso. Eu sinceramente tentei controlar o curso dos acontecimentos, eu quis travar o meu sentir com a mais intensa das forças, mas tudo fugiu ao meu controlo. Era como estar no meio de um tornado a tentar orientar um cata-vento.
Lembraste daquela vez em que me desafiaste? Não sei como forcei as minhas mãos a ficarem paradas; não sei como não guardei as tuas entre as minhas – qual jóia delicada - e te disse para parar.
Consegui arduamente, neste mar de sentimentos aterradoramente revoltos - onde tanto me sentia feliz, como, na mesma exacta medida, miserável - encontrar um farol de lucidez. Cheguei a cuidar que, por gostar tanto de ti, tinha por missão prioritária, proteger-te de mim. Assumi, sem qualquer enigma, que a tua felicidade era mais importante do que tentar enlaçar-te na minha teia de afectos imponderados.
Senti uma dor fina de morte, bem como, simultaneamente, uma enorme paz, quando comecei a trilhar o caminho da distância. Afinal, o bem-estar de quem estimamos é - deve ser - o objectivo final e supremo da nossa acção. Foi assim que me persuadi, e é assim que planeio pensar. Vejo-te assim, neste momento, pelas lentes do distanciamento. Tenho-te num patamar especial, sem dúvida, e com uma sensação da paixão. Não posso dizer que o preço é baixo, mas, tudo o que vale a pena é caro; não há borlas nesta vida!
Como bónus, passei mais uma vez a lembrar-me. Deixei-me de mascaras e estratagemas elaborados para iludir-me. Soube cristalinamente o que se estava a passar. Na minha decepção, tento ressurgir; nas minhas falhas, tento edificar o alicerce da minha paz.
A suprema ironia é, neste instante, imaginar que podes muito bem ler estas linhas, as quais nem estava a pensar publicar.
E nem imaginas que tu és o destinatário! Que aquele teu amigo - nas suas palavras - tão razoável e leal, nos seus profundos pensamentos adorou-te e sem outra alternativa, deixou aqui uma carta para clarificar-se dessa fase e tentar seguir em frente na vida. Seja lá o que isso queira dizer.
Não é sensação nenhuma, é mesmo amizade. Eu quando estava a ler, calculei ser o destinatário q acima referis-te, pois uns "copos a mais" fazem revelar coisas q não são para se dizer...pelo menos antes do tempo. Tinhas dito que era para mim... obrigado:) Gostei muito..
ResponderExcluirUm beijinho
fogo pahh... é o que eu digo
ResponderExcluireh eh eh
André Fernandes