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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Someware over the rainbow…


. . . way up high,
interpretada por Israel Kamakawiwo'ole, um descendente de uma linhagem pura de nativos havaianos. Ouvi-a ainda a pouco nos créditos do filme Joe Black que estava a dar no canal Hollywood. Num ápice fui à Net e neste momento estou a saborear uma injecção de 5 horas. É praticamente narcótica esta música.
Mas, não foi por isto que vim escrever este post. A verdade é que estou aqui na companhia de um amigo e fui confrontado com uma situação melindrosa.
Afinal de contas estamos no final de mais um louco verão, avizinha-se um longo inverno e as contas à lenha, mantas e agasalhos começam a se notar.
Pelo meio recordam-se noites de loucura em que se dormia todo nu, sem lençóis, janela aberta e desfrutando da companhia feminil. Relembra-se aquela curte que marcou mais. Corre-se os contactos dos telemóveis em busca daquele número cujo nome começa por uma letra que já nem nos lembramos. Dai dar jeito colocar notas tipo: curte de dia 8; jantarada do dia 9; - coisas assim. Mas ao ligar, vai-se dizer o quê? “- Olá tudo bem!” lol
A verdade é que não se sabe o que dizer. Os sentimentos trocam-nos, opta-se por mandar uma SMS e fica-se à espera. Tudo isto dá com qualquer um em doido.
E este é mais ou menos o dilema.
Meio parvos; eu a escrever isto no portátil, ele a falar e a olhar para o que escrevo.

- Ficou porreiro?
- Epah… mas acho que está pouco.
- Então eu continuo a escrever.

Depois de uma longa pausa, em que ficamos embasbacados a olhar para a televisão. Canal Hollywood, muito à frente. Enfim.
A vida tem com cada coisa, - já viram? É uma constante a luta em busca da pessoa certa, que no meio de tantas erradas nos fazem desacreditar na existência de pelo menos uma certa. Mas isto deve ter a sua lógica. Como seres afectivos que somos, todos gostamos de dar e receber. Se possível dar sempre mais que receber. Seria um autêntico conto de fadas com um final feliz. Mas, há algures quem não ache o mesmo. Talvez por motivos de equilíbrio. Nem tanto ao mar nem tanto à terra; - à beira mar! Então mentimos, enganamos e brincamos com sentimentos alheios proporcionando-lhes na maioria das vezes sofrimento. E fazemo-lo porque é fácil. Complicado será fazer bem. Mesmo por vezes aqueles; os melhores amigos, camaradas, sangue do nosso sangue. Até esses na melhor das suas intenções nos magoam. Por vezes o dar a comida é insignificante, quando ensinar a cultivar que é realmente proporcionar alimento de um modo sustentável, não. Fazer caridade fica-nos bem? Sim! Ajudar mesmo? Não!
Parece mais uma brincadeira de mau gosto, acompanhada de um final ainda pior.
Por vezes dou comigo perdido em pensamentos, frases e imagens que surgem quando fecho os olhos. Aquele sorriso simples e tímido seguido de um olhar gracioso. Só a paz que sinto quando estou ao seu lado. Não nego, por vezes sonho acordado e se sabe bem. Só um bocadinho que seja sinto logo um arrepio e um aperto no coração. Depois esta música não ajuda muito. Ainda a ouço.
Já ouvi muita coisa. Esta certamente não é como as outras. Modernices cá para mim.
Acreditem ou não… Há algo de mágico nesta música.
Já a cantei, imprimi a letra e depois de já a ter ouvido uma centena de vezes, ela continua a tocar. Sempre com a mesma energia e ritmo. Quem me dera que muita coisa na vida se mantivesse assim. Ou talvez não.
Mas, há também uma coisa que me deixa inquieto. Aliás, até há duas coisas que me deixam inquieto. O facto do meu pai me querer passar a pasta definitivamente. Engraçado que me preparo para isto já há algum tempo e agora chegada a hora fiquei com receio. Habituado a o ter sempre por perto, confrontando ideias e conhecer a experiencia que a idade lhe acarretou. Ficar agora desmembrado dá que pensar. Por um lado até é bom estar assim, é sinal de que pondero bastante as situações.
Por fim, a segunda inquietude que me persegue é uma paixão. Paixão essa que não procurei e ela alojou-se em mim indevidamente. Sem pedir permissão, mas eu também deixei. E deixei consciente de que me estava a apaixonar. - Possas pahh… Mais uma vez a sentir o coração apertado, levar horas a sonhar, ouvir musica, fechar os olhos e perder completamente a noção do tempo que custa a passar. Tentar manipular os sonhos em busca de viver essa paixão sem comprometer a nossa amizade. Sim em sonhos.
É bonito este sentimento. Tento contentar-me por saber que o sinto. Forte e impaciente por tomar conta de mim mas, eu controlo-o. É mais fácil do que pensava. Depois desta minha impaciência já ter sido chamada à razão por várias vezes, hoje sei o que sinto e até sei explicar porquê. Outrora não o saberia. E pode parecer que tudo isto já perdeu a piada, mas não. Seria uma intrujice se o afirmasse. Este sentimento é como um balão que enche, enche e nunca rebenta.

Isto foi só um desabafo entre dois amigos… uma mistura de duas histórias um quanto parecidas.

Obrigado Jorge

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Verde - Maduro Vs Maduro - Podre


Já não se pode esperar que uma organização para a qual se trabalha dure muito tempo. E a razão é simples: imaginando começar a trabalhar aos 30 anos, quando chegar aos 60 é bem provável que essa organização esteja mentalmente cansada e os seus colaboradores, apesar de serem bastante bons na sua função, já não aprendem grande coisa. Agora imaginem 40 ou 50 anos no mesmo tipo de trabalho. Como é depois possível contribuir alguma coisa à espera que o seu trabalho se torne novamente um desafio e uma satisfação. Apesar de só ter ainda 3 anos de trabalho, presencio e convivo com quem tem muitos mais. Chego a concluir que daqui a uns anos, qualquer pessoa se comece a deteriorar, aborrecer, a perder toda a alegria no trabalho, ou seja “reformam-se continuando ainda a trabalhar” e tornam-se um fardo para eles próprios e para todos os outros á sua volta.

domingo, 19 de julho de 2009

A crítica




Certo modo criticar é fácil. Arrisca-se muito pouco e aprecia-se estar acima daqueles que presenteiam o seu trabalho. Crinein, que significa separar e julgar, é um espírito que preserva o que merece ser afirmado e põe em dúvida a pretensão daquilo que vai além do seu domínio de aplicação e, portanto, não merece ser afirmado. Pertencendo à ordem de um acto de espírito que duvida antes de afirmar, a crítica pertence, então, à ordem da liberdade de espírito. Esta liberdade vai notar-se no decurso deste blog, onde a minha intenção não é a de falar mal, mas também não tenciono falar bem lol...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Encarar a vida com maturidade


Alguém me disse um dia que um homem tende a viver à altura das expectativas dos seus pais, ou corrigir os erros que eles cometeram. Tenho consciência que faço um pouco das duas coisas.
Mas os sonhos dos meus pais não são os meus.
Apesar de ter crescido dentro dos seus valores e de me terem indicado o melhor caminho, eu é que tive de o percorrer.
Não duvido que são as pessoas que mais gostam de mim, mas por vezes esse gostar não nos deixa crescer. Ainda hoje sou considerado “filho rebelde” por ver o mundo com os meus olhos e acreditar em realidades um pouco distantes. Pois só eu sei o quanto me custou percorrer esse caminho. E essa experiência foi única. Ninguém a viveu intensamente como eu. Ninguém sabe o que senti nem o que pensei.
Assim como eles foram a evolução da geração dos seus pais, eu sou a evolução da geração dos meus.
Nunca o mundo assistiu a tamanha evolução como nestes últimos anos, logo as mentalidades encaram Presentes e Futuros muito diferentes. O meu Presente é o Futuro deles. E eu certamente conjecturo um Futuro que não embute na quimera deles.
Este choque de gerações leva a incansáveis controvérsias, onde a autoridade paternal tem o direito de veto por razões óbvias. Mas nem sempre acompanhada por razões lógicas.
E são essas, as razões lógicas pelas quais lutamos exaustivamente. E emprego este palavrão pois sinto-o muitas vezes. Consciente de tudo isto, sei o que os leva a vetar. E que por vezes esse direito não é usado em nome da razão, nem possui argumentos válidos.
Fruto, - um inevitável sentimento de injustiça do qual não consigo fugir. Por muito que refute tal sentença, o corpo não aceita baixar os braços.
E aqui reside a maturidade, a qual vamos construindo no meio de muitas aprovações e maiores negações. Por vezes, em debate com os próprios aliados, em busca de sabedoria. Calcula-se facilmente que as nossas falhas como filhos só revelam a falha deles como pais. Certamente fizeram o melhor que conseguiram. Tomara fazermos o mesmo; - o dever será fazer melhor.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O medo


Medo de abrir aquela porta. A porta que leva ao lugar mais… - a que lugar leva? Será um lugar de alegrias ou tristezas? Que ou quem reside lá? Ou ainda reside lá? Talvez um par de incertezas.
Há muito que tranco uma porta que já nem sei para onde vai dar. Tenho recordações boas e más de quando a tinha aberta. Ou talvez sejam só recordações. Se são boas ou más é indiferente porque tudo na vida seja ela boa ou má ensina-nos alguma coisa. Sei que fui eu que a trancou. Sou eu que tenho a chave e só lá entra quem eu deixar. E talvez o problema seja esse.
Esta porta que mais parece um muro de Berlim… foi construída por necessidade… separando-me de sentimentos exaustos de outrora. Como ossos partidos que com o tempo se curaram.
Quando curam ficam mais fortes nessas zonas. Se partirem outra vez, já partem ao lado. Também nós somos assim, aprendemos com os nossos erros. Deixamo-nos partir em certas zonas e sempre diferentes mas, deixamo-nos partir varias vezes.
Nós somos como um osso. - Leva tempo mas cura.
Como sabem este tipo de lesões deixam sempre marcas. - Nunca é a mesma coisa.
Eu posso dizer que já parti muitos ossos e também já ajudei a partir. Gostava de ser corajoso e ter partido mais ossos ainda. Mas não; escolhi ser cauteloso, apesar de nos tempos que correm não ser nada fácil.
Sei que tolerei bastante e também não fui fácil de tolerar. Tenho consciência disso. Mas levar engessado à espera de curar um osso é situação que não gostava de repetir.
Sei que ao abdicar desta porta resta-me o trilho da incerteza. Isolamento para sempre talvez. Gostava de ter coragem para a abrir. Mas não acho de momento motivo que me vença. Já passei a fase do aéreo de que tanto tenho saudades. Sinto que fujo de qualquer responsabilidade com medo que ela se transforme. Talvez a melhor coisa a fazer será abrir as asas e voar novamente. Ir aterrando de porto em porto. Seja ele seguro ou inseguro. Aterrar e levantar quando quiser.
Dos portos que conheço, o medo de aterrar até não é muito, mas prefiro pairar sobre eles para ter a certeza que consigo aterrar em segurança.
Criei valores muito altos para mim, então agora não aterro num porto por aterrar.

Está confuso eu sei. Todo o medo é confuso.
Ou talvez esta confusão me provoque medo…

domingo, 21 de junho de 2009

Porquê o AUDI


Que razão estará por detrás de tantos preferirem um AUDI a outros automóveis com designs igualmente atractivos, níveis de segurança semelhantes e preços idênticos? Eu, que recentemente elegi esta marca para renovar a minha frota, sei porque o fiz. Considerando o livro “Buy-Ology”, de Martin Lidstrom. Um livro que me ensinou a descobrir as razões por detrás das estatísticas. Sei que é o carro mais desejado pelos Portugueses e também o mais roubado por carjaking. Mas então, o que leva tantos a optar por esta marca?
É muito possível que tenha a haver com o slogan da empresa: “Vorsprung durch Technik”. Desconfio seriamente que existam muitas pessoas fora da Alemanha e da Suíça que saibam o que isto significa. Traduzindo, quer dizer sensivelmente «progresso através da tecnologia». Talvez nem muitos vendedores desta marca o saibam mas, os fãs dos U2, entre os quais me incluo, saberão que Bono murmura essa frase no início da música “Zooropa”. Mas a questão não é essa. A maior parte das pessoas sabe que a frase está em alemão. Depois o nosso cérebro liga «automóvel» a «Alemanha», por causa de tudo o que aprendemos ao longo da vida sobre excelência da indústria automóvel alemã. Altos padrões de qualidade. Precisão. Consistência. Rigor. Eficiência. Segurança. Resultado: saímos do concessionário com as chaves do AUDI na mão. E porquê? Raramente temos consciência, mas a realidade é que, num mundo lotado de carros que mal se diferenciam uns dos outros, surge de repente no nosso cérebro um marcador somático que liga a Alemanha à excelência tecnológica e que nos motiva a preferir aquela marca.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Rituais & Superstições


Todos nós levamos a cabo uma série de rituais simples e previsíveis desde que nos levantamos de manhã até à hora de deitar. De certo modo todos esses rituais são fruto da necessidade de controlarmos a nossa vida. São efectivamente acções pouco racionais que levamos a cabo, com a crença de manipularmos o nosso futuro, e que não chegamos a ver resultados. Mas o incrível é que todos os dias agimos destas formas supersticiosas e sem saber porquê.

Será stress?

Temas como: crise; aquecimento global; fome; desastres naturais; guerra; desemprego; assaltos. Temas estes que nos são bombardeados todos os dias pela comunicação social – serão eles os culpados deste sentimento de tensão?
Diz-se que a tecnologia tem dado os seus maiores passos nestes últimos 20 anos que em 200 atrás. As pessoas andam cada vez mais depressa. Falam mais depressa e querem em apenas 24 horas fazer o que há anos se levavam semanas. O mundo parece que roda cada vez mais depressa. Os dias acabam depressa e não conseguimos fazer tudo o que queríamos. E andamos sempre apressados com medo que o mundo se acabe. É verdade, estamos a evoluir muito depressa. E toda esta evolução espontânea leva a que o mundo seja mais imprevisível. Quanto mais imprevisível se torna o mundo, maiores são as nossas tentativas de nos sentirmos em controlo sobre a nossa vida. E quanto maior é esta ansiedade e incerteza que sentimos, mais facilmente adoptamos comportamentos e rituais supersticiosos.
Começando logo pela manha, desde o escovar os dentes com uma pasta branqueadora para ficar com os dentes mais brancos. Tomar o duche e colocar aquele perfume em lugares estratégicos. Ler os e-mails à espera de receber uma mensagem que nos solucione qualquer coisa ou mesmo passar os olhos pelas manchetes dos jornais esperando algo inédito – seja aquilo que nos dê confiança para lidar com o que ainda está para vir durante todo o dia. Andar por cima das marcas azuis do pavimento. Atravessar a passadeira só pisando as riscas brancas e até desviar de um escadote para não passar por baixo. As nossas refeições têm de ser acompanhadas por outras pessoas do grupo de amigos ou colegas, num restaurante habitual. Um acto social que nos reúne com a nossa tribo e transformamo-nos de seres solitários em membros de um grupo. Nas saídas nocturnas, a preocupação com a aparência. Aquela luta pela aceitação dos outros. Evidenciam-se uma serie de rituais que alteram o nosso aspecto que nos fazem parecer melhor e também mais confiantes. O uso do tal anel ou colar da sorte. Por fim, a preparação do futuro. Desde desligar luzes, o computador. Fechar as janelas e trancar a porta. Preparar as coisas para o dia seguinte, deixando logo o saco à porta de casa para não nos esquecermos no dia seguinte. Como último ritual do dia, o importante será sentirmo-nos em segurança então rezamos.

No dia seguinte recomeçamos de novo todos os rituais.

sábado, 13 de junho de 2009

Aquele momento

Produção e Realização de João Cruz

Palavras para quê...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Conhecimento próprio



Existe um EU dentro de nós. Um Eu que mais ninguém reconhece senão nós próprios. Será por ele viver dentro de nós?
Será assim tão evidente?
Quando nos vemos num ecrã de televisão: estranharmos a nossa postura; a nossa voz não parece a mesma; o nosso sotaque e maneira de falar parecem não ser nossos. Mais depressa reconheço por igual o timbre de voz de uma outra pessoa do que o meu próprio. Leva-me a pensar que não me conheço muito bem.
A verdade é que nunca tive uma conversa olhos nos olhos com o meu Eu. Todas as vezes que o tentei fazer não passava de um reflexo.
Como posso eu confiar nele?
O facto é que confio. Questiono-o e respondo-lhe aos porquês, ajudando-o a ele e ele a mim a resolver o que quer que seja. Também lhe dou na cabeça, e ele a mim.
Nesta vasta caminhada que é a vida, é ele que o percorre comigo de mãos dadas. Seja para onde for. É ele que me puxa, ou eu a ele.
Será ele a minha consciência?
Só sei, é que há qualquer coisa que flutua por cima desta minha vida apressada de confusas sensações. Ou permanece em sossego cá no fundo, longe do que é superficial e manifesta-se em silêncio.
Seja lá o que for, é meu amigo e eu devo-lhe lealdade.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Viagem



Oiço flautas a soprar e o bater calmo das cordas de um piano.
Sinto-me distante e sem saber onde estou. O preto nota-se bastante, parece de noite se tratar. Momentos depois, olhando em meu redor, reparo que alguma coisa está ali a surgir. Foco uns tons de castanho escuros altos e verdes que se agitam vivamente. Desvio o olhar e parece-me ver um espelho calmo, reflectindo uma incansável esfera que aquece a vista. À minha frente está traçado um caminho branco suave, onde eu vou passeando. Reparo que divide estes dois mundos tão diferentes mas ao mesmo tempo tão fascinantes. Que lugar será este?
Agora não posso sair daqui. Quero ver que caminho é este e até onde me leva. Se abrir os olhos deixo de ver; se deixo de sentir este soprar, a beleza deste lugar desaparecerá. Vou colocar a música a repetir vezes sem conta. Só assim poderei caminhar livremente e explorar infinitamente este lugar magnífico.
A música já se reconta. Há quem diga que ela difunde mágoa, a mim dissemina a paz.
Que mundo será este detentor de ficções tão harmoniosas que só as vejo de olhos cerrados e nem sequer as consigo tocar?

Aquele sorriso

Produção e Realização de João Cruz

O sorriso é elegante. E, também, tudo o que o auxilia: o bom humor, a alegria, a paz interior. O sorriso é a melhor coisa que podemos dar aos que estão ao nosso lado.

O Veneno



Há uns dias estava eu num jardim absorto a ler uma revista, quando me deparo com esta situação: um casal. Ela a chorar sentada, ele em frente a ela, de pé. E eu, como figura observadora que sou, pus-me logo a analisar uma possível razão para aquilo. Era óbvio, quanto a mim. Traição.
Ela atolava-se em lágrimas, soluçava, tremia assustadoramente e tapava a cara. Ele, na sua postura de macho incrédulo com a situação, sem uma única lágrima ou ruga na cara olhava para ela. A emblemática atitude. Depois de "comer fora". Ali, parado. Como se nada fosse e o amanhã não viesse. "Foi só um caso de uma noite, Sofia", escutei eu. Lá está, era mais do que evidente. Também eu sofri a uns metros de distância.
E também eu, num ápice, senti de novo na pele tudo aquilo. O passado veio até mim como uma flecha, e eu não me consegui defender. Deitou-me abaixo, pura e simplesmente. E naqueles instantes foi-se tudo o que havia de mais belo dentro de mim.
É algo que me transcende, a traição. Há sempre alguém aliciado pelo sexo alheio, há sempre alguém que cai.
E quando se levanta quer começar de novo. Uns conseguem-no, de facto. Outros não. "Foi um erro, não volta a acontecer". É sempre um erro, mas volta a acontecer. Volta sempre.
Eu tive o dom de perdoar (ou a estupidez, como quiserem) e dar a hipótese de começar de novo. Uma hipótese dada a mim mesmo. Porém, há quem não o faça. São os razoáveis, esses. Ou talvez não.
Passado um pouco, a Sofia levantou-se, ainda a lacrimejar, e deu o braço ao namorado. Decisão tomada.
Gostava de acordar, um dia, e de não ter visto a Sofia.

domingo, 7 de junho de 2009

Sensação de amizade



Recordo como se fosse ontem. A imagem de um sorriso franco e sereno, e uma personalidade que foi ganhando terreno. Revelaste-te como alguém presente, interessada e gradualmente dedicada. Reparei que não o eras apenas comigo, era a tua maneira de ser. Se podias fazer algo – pequeno ou imenso - para animar o dia dos que te rodeavam, fazias. Sem contas, estratégias ou interesses. Natural. Como podia eu não reparar?
Fui afortunado em desenvolvermos uma amizade.
Mas, foi nesse patamar que comecei a sentir-me gradualmente atordoado, confuso e com um peso enorme na minha alma. Estava a trair-te. A trair a tua sincera dedicação; a trair-me, estupidamente, também a mim. O que para mim era amizade pura e empenhada, para ti começou a ser mais do que isso. Eu sinceramente tentei controlar o curso dos acontecimentos, eu quis travar o meu sentir com a mais intensa das forças, mas tudo fugiu ao meu controlo. Era como estar no meio de um tornado a tentar orientar um cata-vento.
Lembraste daquela vez em que me desafiaste? Não sei como forcei as minhas mãos a ficarem paradas; não sei como não guardei as tuas entre as minhas – qual jóia delicada - e te disse para parar.
Consegui arduamente, neste mar de sentimentos aterradoramente revoltos - onde tanto me sentia feliz, como, na mesma exacta medida, miserável - encontrar um farol de lucidez. Cheguei a cuidar que, por gostar tanto de ti, tinha por missão prioritária, proteger-te de mim. Assumi, sem qualquer enigma, que a tua felicidade era mais importante do que tentar enlaçar-te na minha teia de afectos imponderados.
Senti uma dor fina de morte, bem como, simultaneamente, uma enorme paz, quando comecei a trilhar o caminho da distância. Afinal, o bem-estar de quem estimamos é - deve ser - o objectivo final e supremo da nossa acção. Foi assim que me persuadi, e é assim que planeio pensar. Vejo-te assim, neste momento, pelas lentes do distanciamento. Tenho-te num patamar especial, sem dúvida, e com uma sensação da paixão. Não posso dizer que o preço é baixo, mas, tudo o que vale a pena é caro; não há borlas nesta vida!
Como bónus, passei mais uma vez a lembrar-me. Deixei-me de mascaras e estratagemas elaborados para iludir-me. Soube cristalinamente o que se estava a passar. Na minha decepção, tento ressurgir; nas minhas falhas, tento edificar o alicerce da minha paz.
A suprema ironia é, neste instante, imaginar que podes muito bem ler estas linhas, as quais nem estava a pensar publicar.
E nem imaginas que tu és o destinatário! Que aquele teu amigo - nas suas palavras - tão razoável e leal, nos seus profundos pensamentos adorou-te e sem outra alternativa, deixou aqui uma carta para clarificar-se dessa fase e tentar seguir em frente na vida. Seja lá o que isso queira dizer.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

...mas vou ter de escrever



Quanto antes melhor, sob pena desta úlcera nunca mais me deixar, mesmo que a sinta curada. Veramente, não sei se estou movido pela necessidade de uma espécie de purificação, ou se foi pela leitura do blogue lyricsless que a Catarina e a Ana Marta têm publicado, o facto é que fui relembrado do poder que as palavras sustêm. Elas podem revelar a violência da dor, podem ser apenas libertadoras ou, espero eu, podem tentar limitar os estragos do passado. Será somente uma extrema necessidade de tentar ser autêntico com a vida? Sei lá! Avaliando os erros que tenho no currículo, nem me posso dar ao luxo de aclarar com segurança estes temas. Sinto apenas que hoje chegou a altura de o escrever.